No Lar dos Anjos
— Vou começar arrumando o telhado. Aproveitar que não tem previsão de chuva para fazer isso.
— Dona Lily, a senhorita entende alguma coisa de obra?
— Eu que consertava as coisas no sítio. Seu Quinzinho só me dizia o que fazer. Ele tinha dor nas costas não conseguia fazer. Zenaide, eu fazia essas coisas e no máximo ordenhava a vaca Mimosa. Mas as tarefas domésticas eu não sei fazer.
— Nova Patroinha, eu posso trabalhar para a senhorita depois que fechar o orfanato.
— E para onde essas crianças vão?
— A senhorita não disse...
— Zenaide, elas não vão se adaptar ao orfanato das freiras. Vão fugir e acabarão parando no reformatório. É mais fácil reformarmos a casa e regularizar o orfanato com a prefeitura. Mas as crianças vão ter que ir a escola ou ter uma tutora que os ensine.
— A senhorita é muito boa.
— Eu também sou órfã. Dona Cunegundes e Seu Quinzinho me criaram, mas não são meus pais. Eles faziam comigo o que a Zulma faz com essas crianças. Criança tem que estudar, brincar e desempenhar algumas tarefas domésticas. Eles tem que entender a importância de trabalhar, mas não devem trabalhar. Entende?
— Entendo.
Dias depois
Na Rádio Paraizo...
— Bom dia! Tales, tem carta para mim?
— Tem sim. Mas não é a que você está esperando. Inclusive, quer ir tomar um lanche comigo?
— Eu preciso mexer no telhado nesse horário por que é mais fresco. Vim para esse bairro procurar esse tipo de tela. — Ela mostra a tela. — Amanhã vou me apresentar no municipal se quiser me acompanhar até em casa...
— Claro, vou buscá-la. — Ela pega a carta e saí.
No Sítio Dom Pedro II ...
— Zé dos Porcos, chegou essa carta lê para mim.
— Claro! — Ele abre a carta que tinha dinheiro dentro. Ele entrega o envelope com o dinheiro para Seu Quinzinho. E lê a carta:
— São Paulo, 30 de julho de 1954.
Seu Quinzinho,
A inquilina da casa está me devendo seis anos de aluguel. A casa está pior que a casa do sítio. Com o que o senhor me ensinou vou reformá-la com o que consegui receber de um ano de aluguel.
O dono do Cruzeiro me pagou com dinheiro suíço estou tendo dificuldades para trocá-lo. A inquilina montou um orfanato irregular quero ajudá-la a arrumar o orfanato portanto lhe envio um mês de aluguel. Quando puder vir a São Paulo passo a casa para o senhor e dona Cunegundes.
Assim que terminar a reforma da casa devo ir procurar o Candinho.
Um abraço a todos!
Até uma próxima carta!
Lily.
— Zé dos Porcos, não conte sobre isso para Cunegundes. Vou esperar o professor ou o Candinho voltarem aqui para pegar uma carona. E vou guardar esse dinheiro para uma emergência.
— Fica tranquilo, seu Quinzinho. Seu segredo está bem guardado comigo.
No Lar dos Anjos...
— Zenaide!
— Sim! O que a Nova Patroinha precisa?
— Subir esse material. Me ajuda?
— Claro. E essa carta?
— Da família que me criou. Eles pediram a casa. Mas eles precisam vir aqui para acertar a documentação.
Duas semanas depois...
— Professora! Como vai?
— Estou bem. As crianças estavam sozinhas.
— O bonde atrasou. Fui do outro lado da cidade comprar esse material estou reformando o quarto dos fundos. Para ser uma sala de estudos. O que achas?
— Uma ótima ideia. A diretora não quer mais as crianças na escola.
— Mais uma semana e termino a reforma. Mas espero que a diretora mude de ideia. Sair de casa para a escola é um aprendizado para eles.
— Verdade.
Na Mansão de Candinho...
— Magda¹, quanto tempo!
— Quitéria, que saudades! — As duas se abraçam. — Vim buscar as minhas coisas vou morar com Celso.
— Claro! Eu lhe ajudo. Entre! — Picolé:
— Boa tarde!
— Boa tarde! Você deve ser o Júnior!
— Não, eu sou o primo do Pirulito. O Júnior está desaparecido.
— Vou rezar para São Longuinho para ajudar a encontrá-lo.
No Lar dos Anjos...
— Boa tarde!
— Boa tarde! Eu sou o Tales, vim trazer uma carta para Lily.
— A nova patroinha está reformando o quarto. Pode entrar! — Samir e Aladim vem correndo e escorregam em uma poça.
— Aí!
— Vou pegar o remédio. — Lily saí da casa.
— Boa tarde! Tales, esse é o Samir e esse o Aladim.
— Prazer, meninos!
— Espere! Samir o que é esse desenho na sua perna?
— Eu nasci com ele.
— Uma marca de nascença. Meu irmão tem uma igual. Samir, você é meu sobrinho!
— Você pode adotá-lo?
— Se o meu irmão estivesse morto... Mas ele não está. Seu Quinzinho me deu o endereço dele. Sábado vou lá.
— Aqui está o remédio.
No Sábado...
Na Mansão de Candinho
— Lily!
— Seu Quinzinho!
— Na segunda eu ia mesmo lhe procurar. Vamos tomar um lanche na doceria.
— Claro! — Eles atravessam a praça. — O filho do Candinho está no orfanato.
— O que você está reformando?
— Sim.
— Eu falo para o Candinho. Não perca o menino de vista.
— Pode deixar!
— Eu quero que a casa fique no nome de Eponina, Medeia, seu e meu.
— Claro!
— Dê metade do aluguel para ela. Ela está morando com Candinho. Eu preciso lhe contar uma coisa. Medeia é sua mãe. Ela teve um surto depois que você nasceu e para lhe proteger seu pai lhe deixou no sítio comigo e Eponina. Você tem tanto direito nessas esmeraldas quanto nós.
Próximo Capítulo sem previsão de publicação.
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¹Magda é irmã mais nova de Celso e Sandra. Foi estudar no exterior a pedido da tia.
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